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Amigos e Amigas da Arca

AMIGOS E AMIGAS DA ARCA

De acordo com o que tínhamos planejado, semanalmente enviaríamos uma mensagem à você para divulgar, aos poucos, todos os nossos projetos.
Contudo, vimos, por meio desta carta aberta, pedir licença para interromper esse processo . Isso porque a ARCA está vivendo hoje um momento muito especial e delicado. Sendo assim, resolvemos divulgar em forma de denúncia o que está acontecendo conosco.


A ARCA nasceu depois de um ano de movimento social. No momento em que esse movimento começou a ser perseguido pelos “mantenedores da ordem” da cidade, decidimos criar uma associação que pudesse responder como pessoa jurídica por todas as ações comunitárias que vínhamos assumindo.


E já nos primeiros anos da Associação nós fomos duramente perseguidos pelo prefeito e pelo padre – que mantinha uma aliança com o poder político local. E nesse primeiro conflito os nossos jovens foram expulsos da igreja, todos os tipos de calúnias foram ditas contra nós e até ameaças de morte tivemos que enfrentar. E, o que estávamos fazendo de errado? Apenas organizando as comunidades rurais e os jovens do município, buscando despertar uma visão crítica, objetivando motivar o protagonismo dos habitantes da cidade para assumirem a mudança de sua própria realidade. Afinal de contas, quando começamos este trabalho, Altaneira contava entre os municípios de menor índice de desenvolvimento humano – IDH – do Ceará.


Num segundo momento, percebendo que a ARCA crescia a cada ano que se passava e que os principais líderes da entidade não se candidataram para tomar o poder – o que representava o grande receio dos políticos do lugar –, ercebemos uma outra estratégia: procuraram não nos enfrentar mais abertamente para não perderem prestígio político junto à comunidade. Contudo, a perseguição continuou silenciosamente e, muitas vezes, indiretamente. Nesse momento nasceu a Fundação Educativa e Cultural ARCA, com grupos de música, de teatro, de dança, etc..


E, dentro dessa segunda fase é que se encaixa o momento delicado que estamos vivendo atualmente.


A ARCA nasceu sem espaço geográfico definido e, até hoje, não tem sede própria. No início reuníamos nas casas, nas ruas, nas praças, envolvidos por um clima de grande integração e alegria. Posteriormente tivemos que alugar uma casa e, a medida que os projetos aumentavam nós íamos mudando para um local maior. Até que surgiu a oportunidade de ocuparmos o espaço de um prédio onde funcionava um antigo hospital. Prédio este pertencente à uma fundação chamada Furtado Leite. É o nome de um político que manteve muita influência na região do cariri e que, por meio de dinheiro público, construiu diversos prédios em municípios pequenos no Estado, onde montava hospitais, escolas, etc., que também eram mantidos com verbas públicas. Com isso, mantinham também os seus “currais eleitorais”.


E como chegamos à esse prédio?


Era o lugar onde, por mais de 20 anos, funcionou o hospital municipal. E, com a construção de um novo hospital na cidade, nós solicitamos o direito de ocupar o prédio para zelar por ele. Mesmo porque, diversos outros prédios na região, pertencentes a esta fundação, já estavam completamente destruídos pelo tempo, pelo fato da mesma não manter mais nenhum trabalho social. Ela existe apenas no papel.


E, como a prefeitura estava ocupando o prédio sem pagar aluguel, com uma dívida estimada em R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) junto à Fundação Furtado Leite, decidiu nos entregar a chave do mesmo à Fundação ARCA para se livrar da dívida, para que pudéssemos zelar pelo patrimônio e, como estava próximo das eleições municipais, para comprar o nosso silêncio. Contudo, como continuamos nos posicionando, na semana seguinte após as eleições, em que o prefeito foi reeleito por apenas 15 votos – e está enfrentando um processo judicial correndo o risco de perder o mandato – , ele mandou cortar a água e a energia do prédio. Isso depois de ter nos tirado o espaço no mercado público da cidade onde funcionava uma Bodega Comunitária da ARCA que atendia cerca de 40 famílias.


Além disso, como se não bastasse, na semana passada fomos surpreendidos com um telefonema do presidente da Fundação Furtado Leite que, mesmo não cumprindo mais o seu papel social, ainda continua com uma estrutura jurídica viva. E, por telefone recebemos a notícia de que a referida fundação estava alugando o prédio. E, se a ARCA não o alugasse, eles iriam alugá-lo à Prefeitura, pois esta havia manifestado interesse.


Diante do fato, pedimos um tempo para reunir toda a diretoria e dar uma resposta. Ele nos deu apenas três dias. E, reunindo as nossas lideranças chegamos à conclusão de que deveríamos buscar algumas informações para decidirmos. E a primeira delas tratava-se do quanto a Fundação estava pedindo pelo aluguel. Passando os três dias ele nos ligou novamente pedindo urgência na decisão e afirmando que a prefeitura havia demonstrado interesse e estava com pressa. Afirmamos que estávamos dispostos a fazer um esforço, mas que eles deveriam nos dizer quanto deveríamos pagar por mês. E que deveriam nos enviar a proposta por escrito. E hoje, no dia seguinte, aos 18/11/09, recebemos o recado por email que deveríamos desocupar o prédio.


Enfim, estamos sendo pressionados e ameaçados de todas as formar. E quem desencadeou esse processo foi o prefeito de nossa cidade.


E você, que está geograficamente distante de nós poderia perguntar: mas, que mal a ARCA cometeu?


Atualmente nós temos sete projetos de geração de renda pela associação e oito projetos sócio-educativos pela fundação. Juntas, as duas entidades beneficiam 460 pessoas diretamente.


Neste mesmo prédio hoje funciona uma terceira entidade: a Associação Beneficente de Altaneira, que coordena a única Rádio Comunitária da cidade.


Nós temos consciência de que a nossa política social incomoda. Nós temos consciência de que a nossa liberdade e posicionamento crítico incomoda. Nós sabemos que estamos intervindo na realidade de Altaneira. Portando, se estamos incomodando é porque estamos mexendo nas estruturas de poder. Afinal de contas, temos consciência de que, na realidade em que vivemos, nos deparamos diante de duas escolhas fundamentais: ou nos aliamos ao poder local e nos beneficiamos de sua proteção – como fazem a maioria das entidades no nordeste –. ou nos aliamos aos que são perseguidos por esta estrutura e seremos perseguidos também. E, nesse contexto, temos os que ficam encima do muro, como as instituições religiosas e que, na realidade, indiretamente colaboram com a estrutura de poder que, em grande parte, se sustenta na injustiça.


Por fim, como a ARCA não depende de verbas de nenhum governo ou ONGs internacionais, como não dependemos de nenhuma estrutura religiosa, os poderosos encontram mais dificuldades em nos dominar. A grande maioria das ONGs no Brasil não sobreviveriam nem 30 dias sem verbas governamentais ou internacionais. No entanto, a ARCA continuará vivendo na força da solidariedade, que é o nosso princípio maior; em parceria com pessoas que conhecem a seriedade do nosso trabalho e, ainda mais forte na mobilização e na união de seus membros. E você, que leu esta carta até o final, poderá analisar, opinar e interagir conosco enquanto enfrentamos mais uma fase de conflitos ideológicos.


Um forte abraço!

EQUIPE ARCA








Altaneira, 01 de Dezembro de 2009.

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